Vivências fotográficas têm o potencial de possibilitar um processo de pertencimento. O direito de sentir que a experiência com o próprio corpo atua em comunhão com um profundo desejo de reconhecer e experienciar os próprios desejos. Uma busca pela consciência de que “Eu me relaciono com o meu corpo e tenho o direito de com ele ocupar os meus espaços, na consciência do meu tamanho”.
Uma experiência realizada a partir da ressignificação dos impactos de um ver-se e ser vista com olhar inquisidor, instituído por dores, traumas, imposições socioculturais, amarras sistêmicas familiares, determinações ideológicas, políticas, religiosas. Um olhar criador de muros invisíveis, que impede o enxergar, o sentir, o compreender e o ocupar o próprio lugar no mundo.
O retrato pode ser um processo que inicia na desconstrução da crença de quem acredita-se ser agora e transitar rumo ao encontro de aspectos internos escondidos, negligenciados diante a necessidade do “fazer parte” do meio social vigente.
O papel político do retrato e seu potencial de cura
A fotografia, mais especificamente os retratos, têm um potente potencial de cura e papel político, quando direcionada para um processo em que nos permitimos o auto-acolhimento. Facilitar uma vivência fotográfica com a proposta de fazer com que a pessoa fotografada se permita amar o próprio corpo como ele é agora, em vez de viver em função da idealização do que ele poderia ser, é curativo, é um ato político.
Facilitar um processo durante uma vivência fotográfica, que conduza uma mulher a expressar o que pensa e sente, em uma sociedade onde por muito pouco somos taxadas de loucas, promíscuas, mandonas, desequilibradas e temos nossa capacidade a todo tempo questionada, é um ato político. Facilitar um processo durante uma vivência fotográfica que conduza um homem a reverberar sua vulnerabilidade, sua sensibilidade, em um meio social onde a percepção de masculinidade está adoecida, é um ato político.
Ter consciência política não fala apenas sobre inteirar-se das atividades realizadas por nossos legisladores, de forma lúcida. Fala sobre ocupar nossos espaços. Não somente fora. Mas dentro de nós. Chegar neste lugar requer um olhar-se com profundidade e amor. Requer um permitir-se ser vista, para que outros possam ajudar a enxergar em si mesma a beleza que tantas vezes nós temos dificuldade de perceber.
Por isso o registro fotográfico vai muito além de um recorte da realidade. Se nos permitirmos, ele se transforma em um desnudar de alma. Em que temos a oportunidade de nos conectar com aspectos que por tanto tempo escondemos. Seja por medos, por traumas, por crenças que sequer são nossas.
A fotografia não é estática
Compreendendo que aquela imagem registrada, assim como o lugar ocupado internamente no agora, não é estático, mas uma projeção que se transforma. Capaz de despertar diferentes afetos, cada vez em que nos conectamos com ela. O que vemos em um retrato muda, quando mudamos, pois ele não é um mero registro do que foi. Mas também a projeção do que se é agora. Parte de um eterno caminhar, em que nos permitimos transformar e ser transformados pela vida.
Por isso, hoje, não uso mais o termo ensaio, mas sim vivência fotográfica. Por entender e sentir que retratos vão muito além da estética. Eles possibilitam uma condução terapêutica para que, a partir da arte, possamos reconhecer o nosso lugar. Para que, a partir desse reconhecimento, possamos nos sentir pertencentes. Pertencentes ao mundo. Pertencentes a nós mesmas.
O direito de pertencer
Segundo algumas abordagens da psicologia, a noção do EU inicia a partir da percepção de nossa autoimagem no espelho, quando ainda bebês. Na linha lacaniana, a construção desse EU é perpassada pela necessidade de identificação com um outro, uma imagem de autoridade, como o pai ou a mãe. Logo, nosso primeiro processo de auto-percepção seria alienante, para dar vazão a uma necessidade de pertencimento sistêmico/sociocultural.
Quando nosso reflexo no espelho reflete esse EU, que ainda vive em necessidade de pertencimento, mas está muito distante do que seria nossa essência (ou o si-mesmo, dentro da abordagem da psicologia analítica junguiana), podemos sofrer um processo de dissociação, com a autoimagem distorcida.
Buscar olhar para o si-mesmo é autorizar-se à possibilidade de entrar em contato com o nosso genuíno desejo. Não aquele que criamos para suprir as necessidades e expectativas do outro, do entorno, da família, da sociedade. Mas o que pede nossa alma.
Muitas vezes, para nos sentirmos pertencentes, aceitamos a crença de que determinadas escolhas são nossas, sem nos darmos conta de que estamos vivendo histórias das dores dos nossos complexos. É preciso se redescobrir. Desvendar e assumir desejos ocultos, para compreender aonde se escondem nossas faltas.
Imagens projetadas em retratos também são um caminho de encontro com esse vazio. Um vazio que nos permite enxergar quem somos e nos empoderar na ocupação de nosso lugar. Pois todas e todos fazemos parte.
Fotografia e pertencimento: agende sua vivência
As vivências fotográficas são uma proposta da jornalista, terapeuta e artista plástica Cláudia de Sousa Fonseca. Ensaios fotográficos em Saquarema e no Rio de Janeiro. Agendamentos pelo WhatsApp (21) 98101-2828. Confirmação de horário apenas após envio de comprovante de pagamento.