Como você se conecta com a projeção do Arcano O Mundo?
No início era o verbo. E minha voz foi calada pela humanidade, por temerem a morte. Por não suportarem carnes em decomposição, apesar de uma existência em que milhares de células fenecem e ressurgem de seus corpos, todos os dias. Sem perceber que aquela pele deteriorada também serve de adubo para minha terra. Sem perceber que, se não houver suposto fim, minha casa não suporta abrigar novas manifestações divinas.
Sem perceber que apenas posso ofertar a esta humanidade a dádiva do conceber, do gerar e do parir, porque um dia a matéria perece. Mas prossegue viva em cada ventre fecundado por sagradas sementes. Em que toda a tua ancestralidade habita em teu ser. E parte de teu ser há de habitar todas e todos que vierem depois de ti, invalidando qualquer final ou princípio, além de um constante ciclo em renovação. Toda história inicia antes de começar. Toda morte é chamado para o renascer.
Ainda assim, para suportar a angústia de existir no mundo, diante a crença de irrevogável fim, iludiram-se na invenção de o espírito ser eterno. E acreditaram ser minha morada uma amarga prisão transitória. Quando permanecer em mim é receber a graça de poder morrer e renascer todos os dias. Por dentro. De despertar um querer que escolhe dar adeus ao ser que eras, no dia de teu primeiro respiro, muito antes de tua carne sucumbir. Você se manifesta em minha casa para que tua certeza do que acreditas ser possa, enfim ruir.
Tentei, através de sabedoria ancestral, explicar que fragmentos de espírito desmantelam-se o tempo todo e transformam o que vocês entendem por alma. Acreditaram, então, haver pura essência imutável. Sem saber que a perfeição inventada para essa consciência faz com que ela perca o sentido de ser. Pois o perfeito já findou o ciclo e morto em inércia está.
Mas o medo transforma a ignorância em dádiva e escolheram não me ouvir. No pavor da morte tentaram usurpar o divino da criação em mim. Sem perceberem que o que receavam, na verdade, era a entrega à impermanência dos ciclos da vida que oferto, constantes apenas em sua inconstância.
Por não poderem me controlar, em toda minha força, minha fúria primordial, fui prostituída e destituída de meu trono. E corpo e espírito, antes complementares em alquímica comunhão, pois um depende do outro para existir, se tornaram opostos extremos.
Tudo o que vinha de mim passou a ser rejeitado. E os templos de tantas deusas que me honravam, destruídos. A divindade em mim passou a ser representada a partir da rejeição ao gozo. E a humanidade, em vez de aprender a lidar com o impulso de seu instinto, para dele canalizar toda a força, foi dominada pela culpa do sentir.
No início era verbo. E a vida e a morte em mim imploram o meu expressar. Reivindicam o reconhecimento, o reestabelecimento do meu poder. Para retomar minha história, que não jaz perdida em distante passado, mas segue pulsante no agora. Em que o sopro ejacula em mim sua essência. Para que minha forma, tão destituída da individualidade da consciência, perceba-se como unidade em meio ao todo. Mas continuo sendo o todo em cada um.
Em uma união em que geramos andrógena criança divina, capaz de mergulhar e fundir-se em nossos vazios. Para depois reintegrar-se, revelando tantas outras possíveis belezas da criação. E com sua voz manifestar o enlace da duplicidade de cada ser e não ser. Até procriar-se a ponto de, novamente, deixar-se morrer. Para outro renascer.
E quando novo desfecho se aproxima, escolho me resguardar em profundo silêncio, para escutar o inaudível em mim e permitir que no início seja o verbo. Nesta interseção inexistente entre princípio e fim. Todo final é recomeço. Toda expansão pede retração. Viver no mundo, nutrindo-se deste leite, alimento sagrado de meu seio materno, é se apropriar dos limites para transpor as barreiras das próprias limitações.
A morte é sublime experiência espiritual na matéria, para quem escolhe acolher a dádiva cíclica da vida e se entrega a uma nova forma de olhar. Aceitando que para sentir o pertencimento no mundo, é necessário aprender a pertencer às vontades da própria alma. Pois quando a verdade interior é acatada, há a conexão, enfim, do fazer parte. Não importa a parte aonde se esteja.
Em meio a esta terra, este fogo, este ar, esta água, em comunhão com etéreo sopro. Hálito integrado à minha matéria, minha carne, meu útero. Entidades sagradas a pedirem o honrar de tua perecível alma, através de genuíno deleite a cada cheiro, a cada toque, a cada olhar, a cada escutar, a cada degustar. A cada amar.
Para que, reconhecendo a si como unidade que serve a totalidade da criação, aprenda a transformar cada gozo em oração. Em divina ação. Fazendo com que a luz, em vez de cegar teus olhos diante profundos medos, ilumine amorosamente a sombra que sempre habitará em ti. Para que, diante a dádiva da presença de tua jornada neste mundo, escolhas ser o ser que conduz a própria história. E permita-se, enfim, o sentir.
No início era o verbo. E no final, também. Permeados de inefáveis vazios emudecidos. Então, vivendo, morrendo e renascendo, todos os dias, um pouco mais, nesta existência, simplesmente sinta o mundo sagrado interior a transbordar de ti e desaguar em mim, enquanto minha força te inunda, num ciclo sem fim. E se ainda não souberes, não puderes sentir, se ainda não conseguires me sentir, busque ao menos lembrar. Recorda-te. Recorda-te. Recorda-te.
* Texto sobre o Arcano O Mundo escrito pela terapeuta Cláudia de Sousa Fonseca
Arcano O Mundo no Atendimento Arcano Terapia do Espaço Amora
Chamo de Arcano Terapia a sessão terapêutica que realizo com os arcanos do Tarô. Sempre deixo claro que meus atendimentos não têm qualquer aspecto divinatório. O objetivo é abordar um olhar sistêmico sobre questões emocionais que pedem harmonização, a partir de projeções psíquicas.
Por exemplo: uma pessoa está enfrentando problemas de relacionamento amoroso. O objetivo não será dizer o futuro da relação, mas entender quais processos psíquicos estão envolvidos na desarmonia da situação apresentada. Além de buscar respostas a partir de um olhar interno.
Associo os atendimentos de Tarô Terapêutico com ferramentas de acesso a conteúdos inconscientes aplicadas na técnica Alinhamento Energético – Fogo Sagrado. No final, para integrar os conteúdos abordados, eu guio uma Imaginação Ativa. Consiste em um tipo de meditação guiada, em que trabalho processos emocionais a partir de imagens arquetípicas, simbolizadas por deusas de diferentes mitologias.
Atendimentos com Tarô Terapêutico no Espaço Amora
Os atendimentos facilitados pela terapeuta Cláudia de Sousa Fonseca são realizados em Copacabana ou por vídeo-chamada. Agendamento pelo WhatsApp (21) 98101-2828. Confirmação de horário após realização da transferência bancária.
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