* “Retalhos de Isis e Osíris: ordem e caos no centramento da alma” compõe uma das sete séries da exposição “Arrebatamento Sensorial – Um convite à revolução do sentir”.
Retalhos deIsis e Osíris: ordem e caos no centramento da alma é uma série formada por telas que foram repintadas, inúmeras vezes, em minha vã tentativa de racionalizar o meu criar, de me formatar a algo que eu julgava esteticamente belo para o mundo, mas não correspondia ao meu sentir.
Quando alcancei, enfim, um resultado que me tocou em cada uma dessas telas, a tinta rachou depois de secar, em função da textura excessivamente grossa. E decidi rasgar todas elas para que, juntas, se tornassem uma só.
Precisei perder bases que não mais me cabiam para desapegar, retalhar e reconstruir nova arte. Remodelar fragmentos, expandir para a vida. Destruir o que tentei construir em suposta perfeição. E, por isso mesmo, não fez sentido algum.
O interessante foi perceber que as obras retalhadas que eu tinham em mãos não seriam o suficiente para preencher o espaço da moldura. Quase me apavorei diante a possibilidade de destruir alguma pintura, simplesmente porque não queria deixar um buraco. Depois cogitei fazer nova tela, apenas para ser destruída.
Até me lembrar da necessidade de nossos vazios. Da consciência de que eles nunca serão preenchidos. De que para lidar com as nossas faltas, é preciso mergulhar nelas, para a partir disso criar. De reconhecer que a angústia a permear essa sensação de vácuo interior, que muitas vezes sequer sabemos de onde vêm, faz parte da condição humana. E que quando aceitamos que a vida não precisa ser um entulho amontoado de completude, o que antes era dor, se transforma em potencialidade de realização.
Ou talvez eu apenas esteja inventando tudo isso, para justificar meu apego em não querer desmembrar de forma tão visceral telas que me agradam, mas que talvez já tenham morrido como solitária unidade… Nossa psique revela uma infinidade de caminhos nos quais podemos nos encontrar, nos perder. Mas acredito que todos eles nos conectem ao nosso centro. Aquele a convergir de dentro para fora, de fora para dentro. A questão é o quanto e como nos permitimos caminhar.
Esta obra fala sobre as vezes em que, para nos acharmos, precisamos nos perder de quem acreditamos ser. Sobre a escolha de expandir para além das caixas que não mais cabemos. Acolhendo que, em nossa totalidade, seguiremos com um vazio que não pode ser preenchido. Pois nossa alma precisa de espaços para respirar.
A ordem e o caos no centramento da alma
Osíris, uma das divindades mais importantes na mitologia do Egito antigo, tinha como papel governar o império. É o deus da agricultura, do julgamento dos mortos, representando renascimento e ressurreição. Ele é assassinado por seu irmão Set, deus da guerra e do caos, tendo o corpo esquartejado em 14 pedaços e escondido em diferentes lugares. Coube a sua esposa Isis, deusa da fertilidade, da nutrição, considerada mãe de todos os faraós, encontrar todos esses fragmentos para, assim, ressuscitar o amado.
Ao longo de nossa existência, passamos por situações em que a desordem se apodera de nós. Seja por acontecimentos externos, que parecem remover nosso chão, seja por um sentir interno, que cria a conexão com medos e tristezas que sequer compreendemos. Essas vivências muitas vezes despertam a sensação de “estar em pedaços”. Em retalhos. E precisamos nos reconectar com um auto-acolhimento, para que nossos fragmentos internos se reencontrem.
A necessidade de pertencimento
Para existir e sentir que pertencemos ao mundo, precisamos de referências ancestrais e socioculturais. A partir da alteridade, construirmos a narrativa de quem somos. Somos extensões e projeções das realidades que criamos e das realidades criadas a partir de nós. Somos retalhos de muitos dos nossos fragmentos, que se misturam nos retalhos dos fragmentos do outro. De fragmentos ancestrais. Fragmentos originais. Fragmentos coletivos.
Precisamos nos alimentar dessas raízes para nos nutrirmos de vida. Mas quando, em meio ao processo de comunhão com o caos do outro, não conseguimos mergulhar em nossos próprios vazios, nos perdemos. Nossas relações, que vêm como referenciais para nos fazerem crescer como ser humano, passam a ditar o que devemos e precisamos ser.
Em vez de nos transformarmos e aprendermos com nossas experiências, nos condicionamos à tentativa de mera repetição, em busca de validação. Nos tornamos totalmente dependentes do olhar do outro, do julgamento do outro. E as raízes que têm como função nos alimentar, passam a nos prender.
Precisamos deixar morrer esse aspecto psíquico intrinsecamente conectado com a necessidade de pertencer a ponto de nos diminuirmos, de nos mutilarmos, para cabermos no tamanho do outro, dos ambientes por onde transitamos. Para renascer a partir da consciência de que merecemos ocupar espaços que comportem o tamanho que temos. E que, muitas vezes, sequer reconhecemos.
Retalhamento se torna, então, uma oportunidade de remodelamento. Da apropriação da mimese como possibilidade de expansão do ser. Na consciência de que pertencer é criar novos mundo, a partir da conexão com a criação original. Uma repetição a partir de nossa perspectiva, que possibilita a ampliação dos símbolos. E não uma imposição simbólica enrijecida.
Um religare que permite que Isis e Osíris revivam sua história de amor, em um novo lugar.
Por Cláudia de Sousa Fonseca
Artista plástica, escritora, fotógrafa, terapeuta e jornalista
Arte e vivências terapêuticas
As obras da exposição Arrebatamento Sensorial – um convite à revolução do sentir estão à venda. Caso ocorra a conexão com algum dos quadros, a aquisição pode acompanhar uma vivência terapêutica de acesso ao inconsciente, para que seus conteúdos psíquicos sejam trabalhados.
A sessão terapêutica também é possível sem a compra do quadro.
O contato com a arte pode ser curativo. Uma conexão livre de juízos de valor que envolvam qualidade técnica ou estética, aceitando o processo como uma pura personificação do inconsciente, pode causar impactos inimagináveis em nosso mais profundo eu. Sem saber, projetamos ali nossas dores e amores.
Como funciona o atendimento
A ferramenta terapêutica aplicada no trabalho é o atendimento Falas Sistêmicas. A sessão corresponde a uma vivência de acesso a conteúdos psíquicos, com a primeira parte da técnica Alinhamento Energético – Fogo Sagrado, associada com Imaginação Ativa a partir de Imagens Arquetípicas.
Atendimentos no Espaço Amora Terapias Integrativas
As vivências são facilitadas pela terapeuta, escritora e artista plástica Cláudia de Sousa Fonseca. Atendimento online e em Copacabana, no Rio de Janeiro. Confirmação de horário após pagamento da sessão, via PIX ou transferência bancária. Agende horário pelo WhatsApp (21) 98101-2828.
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