Quando tive coragem de me olhar, descobri que um de meus maiores medos era o da loucura. Eu era possuída por um pânico de me perder na realidade, de desfragmentar mentalmente. Hoje percebo o quanto crenças coletivas nos invadem, quando não temos percepção sobre elas. Qual mulher nunca foi chamada de louca? Porém, se algo de fora nos atravessa de forma tão visceral, é porque também está enraizado dentro.
Precisei reconhecer o quanto recalquei, por toda a vida, uma sensibilidade extrema. Uma capacidade inata de conexão com tudo ao meu redor. Uma propensão a sentir demasiadamente. O desespero diante a vulnerabilidade que esse lugar me coloca. Até que o pavor, antes reprimido nas profundas águas do inconsciente, começar a emergir. E fazer com que eu passasse a duvidar de mim. Pelo simples fato de me permitir sentir.
Sempre fui chamada de louca por rir demais, falar demais, expressar demais, beber demais, fazer o que eu bem entendia e com quem eu queria. Quando os excessos eram forma de mascarar o que dentro de mim eu escondia. Ser considerada louca, nesse sentido, era um troféu que eu carregava com alegria. E que começou a ficar demasiadamente pesado. No fundo eu sempre soube que algo estava muito errado.
Lembro de uma vez tentar dividir com uma amiga o misto de sensações que dentro de mim começavam a transbordar e eu ainda não sabia como assimilar. Ela repetiu, algumas vezes, com claro espanto, que eu era muito louca. E me deu toda uma cartilha sobre como eu deveria agir. De acordo com a percepção de mundo dela, é claro. E fui embora com a sensação de que aquela conversa estava muito errada.
Também comecei a ouvir de alguns homens que eu deveria mudar o meu comportamento. E o verbo “descer” foi citado por todos eles. Quando eu me mantive por toda a vida muito abaixo do que eu era, sob o medo de ser considerada louca, caso eu expressasse o que de fato sinto ou penso em determinadas situações. Talvez quisessem que eu “descesse”, por eu também ser uma projeção do outro. Talvez eles tenham que subir. Eu, com certeza, precisava.
E fui, de fato, aprendendo a subir. E outros homens começaram a questionar o meu lugar de fala, em função do poder que neles eu exercia. E me perguntei se eu merecia estar ali. Se estava insana. Se eu era prepotente. Até perceber que determinados espaços, relações, instituições, simplesmente não comportam mais a mulher que sou. Não porque eu seja muito. Muito menos porque sou pouco. Mas porque aprendi e sigo aprendendo, todos os dias, a me colocar no meu lugar.
O lugar de quem reconhece que a crítica, o julgamento, a tentativa de depreciar, de ofender, ridicularizar, é resultado da ignorância de quem aponta o dedo. E não é justo comigo mesma me esconder, me diminuir, me mutilar, para caber nas expectativas limitadas do outro, que acredita ter o poder de escolher quem eu deveria ser. E que às vezes, o que julgamos desequilíbrio, pode ser a forma mais harmônica de passar por determinadas situações. E eu posso, sim, me dar ao luxo de surtar. De cair. De errar.
Compreendendo que não me cabe querer ser a salvadora do mundo, para que as pessoas me vejam como eu gostaria de ser vista e honrem a mulher que sou. Cabe a mim curar as feridas de minha alma para aprender a honrar e reconhecer o meu tamanho. A ponto de deixar de me encolher para caber em espaços que não mais pertenço. A ponto de ter força e coragem, a partir do reconhecimento de minha vulnerabilidade, de criar novos lugares. Para mim e para quem desejar estar comigo.
E deixo que me chamem de louca por escolher acolher a organizada confusão do meu sentir. Por me permitir reconhecer o mais grotesco e sublime do meu pensar. E nessa comunhão, determinar minha ações. Reconhecendo as infinitas mulheres que sou e a necessidade de cada uma delas de se expressar.
Feliz Dia Internacional da Mulher para todas aquelas que têm coragem de ser louca. E também para as que ainda desconhecem a coragem que têm dentro de si.
*Cláudia de Sousa Fonseca é jornalista, terapeuta, escritora, artista plástica e fotógrafa.
Acolhendo as mulheres loucas que te habitam
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