Animus negativo e o Fantasma da Ópera | Espaço Amora

Animus negativo e o Fantasma da Ópera

O Animus negativo representa nossa projeção de alma masculina, em seu aspecto sombrio. Em geral, nos causa dor e faz com que enxerguemos fora todo o obscuro que habita dentro de nós. Ficando presas a uma percepção de mundo que representa nosso sofrimento, sem deixar que nos conectemos com aspectos de um masculino saudável. Fazendo com que, de forma inconsciente, atraiamos relações tão desequilibradas quanto as desordens que habitam em nosso interior.

Trabalhar nossos aspectos psíquicos a ponto de conseguirmos sair dessa jaula não quer dizer que nosso Animus negativo deixe de fazer parte de nós. Diz, apenas, que não somos mais dominadas por ele. E que podemos escolher acolher o que ele nos ensinou, enquanto estávamos presas na dor.

O Fantasma da Ópera

A narrativa de O Fantasma da Ópera, profunda e simbólica, representa para mim a minha relação com essa projeção. Christine vive em um teatro desde criança e, após a morte do pai, aprende a cantar com um ser que nunca viu. Transformando-se em uma admirável artista. Quando se torna mulher e deseja se relacionar com Raoul, o homem por quem nutriu afeição desde a infância, seu tutor se revela como o dominador Erik, capaz de matar para ter sua amada e discípula sob seu controle.

Erik é um homem poderoso, um gênio criativo, que comanda nas sombras todo o teatro. Mas é fruto da dor. Da humilhação sofrida quando criança, por ter seu rosto desfigurado. Enquanto todos tentam combater a força do Fantasma da Ópera, ele causa uma série de tragédias. Apenas quando Christine aceita esse homem em seu coração e o acolhe com amor, ele sai de cena e permite que ela viva sua história com Raoul.

Ela segue com a aprendizado que a permitiu se tornar uma grande artista, mas vai viver essa experiência a partir de um novo lugar. Um lugar de liberdade em que ela pode se expressar de acordo com o seu querer, e não mais pautada na exigências e limites estabelecidos por Erik. Se permitindo viver um amor saudável e equilibrado. Com sua expressão, com sua arte, com seu companheiro, consigo mesma.

O Animus negativo em mim

Minha expressão sempre foi um processo masculino. Uma comunicação expansiva, assertiva, reativa, exagerada, por vezes agressiva. Receptiva, jamais. Sempre falando em excesso. Sempre pronta para lidar com qualquer possível ataque. E assim aprendi a me impor nas relações profissionais e pessoais. Foi a forma que encontrei de estabelecer limites e reivindicar respeito.

Falando sempre o que pensava, mas nunca o que eu sentia. Pois sequer conseguia me conectar com a capacidade do sentir em minha vulnerabilidade. Era o que eu tinha condições de ser em um mundo aonde, sem perceber, eu enxergava apenas a crueldade direcionada a quem abria o coração.

Sempre me expressei demais. Não para me mostrar, mas para me proteger. Direcionar olhares para o que queria expor de mim, escondendo o que de fato eu era. Demorei até aprender a escutar o silêncio da minha alma, a revelar uma pureza interior que eu sequer sabia existir. E sigo aprendendo.

Ela, que hoje me pede o calar, sentir, escutar, receber. Ser guiada. Ser vista em minha vulnerabilidade, na aceitação da humanidade em mim. Na permissão de que cada ser enxergue em mim o que tem condições de projetar.

Eu era uma mulher encarcerada por um aspecto sombrio, a me impedir contato com um masculino luminoso. Mas não foi essa potência em luz que me salvou da prisão que escolhi me colocar, de forma inconsciente, para conseguir lidar com o vida. Apenas me libertei quando acolhi com amor e honrei aquela força que me prendia. Pois foi com ela que aprendi a exercer minha comunicação de forma expansiva. A diferença é que, agora, não preciso mais me expressar sobre os pilares do medo.

E me conectar com esse manifestar a partir da percepção do meu genuíno sentir, segue sendo um aprendizado que cultivo todos os dias. Ainda assustada. Mas coloco meus receios no colo e sigo. Pois o monstro obscuro, O Fantasma da Ópera, sou eu. Que passei a vida conectada com dores ancestrais, coletivas, experienciadas pelo masculino e vivenciadas por mim, em alguns momentos de minha jornada. Raoul, o príncipe encantado que me esperava do lado de fora, também sou eu. A me dizer que o masculino é muito mais do que agressividade, violência e dor.

Por esses dias, conversando com uma amiga sobre minha tendência, digamos, por vezes exagerada, ouvi dela coisas como: “você é maluca!” ou “não deixe as pessoas saberem que você é assim, ou vão sair correndo!”. O que, imediatamente, aos risos, concordei.

Até escutar do meu lado obscuro que eu não deveria, jamais, me permitir ser taxada de louca nem esconder o que poderiam julgar ser o monstro a habitar em mim, em busca de validação para ser aceita ou amada. Quem rejeita a si, atrai rejeição.

Meu Animus “negativo”, que tecia críticas cruéis e me mostrava o pior do mundo, apenas me prendia por eu não saber aceitar o que eu julgava ser o pior em mim: minha capacidade de entrega, de doação e recepção. E, se antes carcereiro, agora é voz que ensina a acolher meus aspectos mais sombrios e demoníacos. Que me autoriza a aceitar que também sou luz.

Como você acolhe O Fantasma da Ópera em você?

Atendimentos Terapêuticos no Espaço Amora

É possível trabalhar a relação com o masculino dentro de nós, a partir de processos terapêuticos. Os atendimentos facilitados pela terapeuta Cláudia de Sousa Fonseca são realizados em Copacabana ou por vídeo-chamada. Agendamento pelo WhatsApp (21) 98101-2828. Confirmação de horário após realização da transferência bancária.

*Créditos da foto de destaque: Divulgação do filme O Fantasma da Ópera

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